O Brasil pode deixar de ser o país mais católico do mundo nos
próximos 20 anos, de acordo com o Novo Mapa das Religiões, divulgado
pela Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro. “É um ritmo forte
de transformação.
As mudanças que aconteceram em 100 anos agora estão
acontecendo em dez. Se continuar essa perda de 1 ponto de porcentagem de
católicos por ano, em 20 anos você teria menos de metade da população”,
calcula Marcelo Neri, coordenador do levantamento.
O relatório mostra que atualmente o percentual de mulheres
católicas (71,3%) é menor do que o de homens (75,3%). “Acima de tudo,
acho que seja a chamada revolução feminina. Poucas coisas mudaram mais
no cotidiano das pessoas do que questões como trabalho e anticoncepção
entre as mulheres. O fato é que, embora as mulheres sejam bem mais
religiosas do que os homens, elas são menos católicas, talvez por uma
questão de afinidade”, disse Neri.
O Novo Mapa das Religiões revela que o sexo feminino
representa a maioria entre adeptos de 23 das 25 religiões listadas como
as mais populares pela pesquisa, como a católica, a evangélica
pentecostal, a evangélica tradicional, a espírita kardecista, a luterana
e a umbanda. Segundo o documento, enquanto os homens abandonaram
crenças, elas mudaram de religião.
“O catolicismo, o candomblé e o budismo são religiões
masculinas. Todas as outras são basicamente femininas”, acrescentou o
coordenador.
A pesquisa da FGV mostra que o Brasil vai de encontro à tese
do sociólogo alemão Max Weber que associa a situação econômica à opção
religiosa. “O Brasil talvez seja o grande contraexemplo dessa tese. Os
países mais tradicionais europeus estão passando por grande dificuldade
econômica e todos os maiores são essencialmente católicos. Já entre o
Brics [Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul], o Brasil é o maior
[em relação à economia e a adesão ao catolicismo]”, avaliou Marcelo
Neri.
Outro dado do levantamento é que a taxa de catolicismo no
Nordeste é a mais alta do Brasil (74%) e no Sudeste é a mais baixa
(64%). “No entanto, no Nordeste [a taxa] tem crescido em velocidade 2,5
vezes maior do que no Sudeste”, ressaltou o coordenador da pesquisa.
Entre os estados, o Piauí é o que concentra o maior número de
católicos. Na outra ponta, está Roraima, com a menor população adepta
ao catolicismo e que também apresenta a menor religiosidade.
O catolicismo está mais presente entre os mais ricos, da
classe AB (69,07%), e entre os mais pobres, da classe E (72,76%). Entre
as outras religiões, os evangélicos tradicionais estão concentrados,
principalmente, nas classes AB (8,35%) e C (8,72%), reduzindo a
participação nas camadas mais baixas, chegando a representar 4,69% da
classe E. Seitas espíritas e espiritualistas representam 5,52% da
população na classe AB. Entre as faixas de renda, a classe E foi a que
se mostrou como a menos religiosa de todas (7,72% não têm religião).
“Religiões orientais e afro-brasileiras estão mais presentes
no topo [considerando a renda]. Quanto mais a renda aumenta, existe mais
diversidade religiosa. Nos últimos anos no Brasil, houve uma queda
acelerada do catolicismo, mas não em direção aos evangélicos
pentecostais, como nas chamadas décadas perdidas, e mais em direção aos
evangélicos tradicionais e todas as religiões alternativas ao
catolicismo e aos grupos evangélicos”, destacou Marcelo Neri.
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