OS LIMITES DA LÓGICA HUMANA [PARTE FINAL]


O lugar da razão na experiência espiritual

Não estamos descartando o valor do raciocício e da inteligência, mas precisamos manter a fé acima de tudo isso. Nossa crença não é irracional, mas extrapola os limites da razão, assim como acontece com o amor.


Minha razão é fundamental para mim, mas minha espiritualidade não pode ficar restrita àquilo que eu compreendo.

Vamos comparar nossas experiências com Deus a um trem, ampliando a ilustração proposta na literatura da Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo. 
Tudo o que existe no universo começou com a palavra de Deus (Heb.11.3). Assim também é na nossa experiência espiritual. A palavra de Deus é o motivo primordial. Ela produz fé em nós (Rm.10.17). Palavra + fé = resultados, fatos, milagres. “Estes sinais seguirão aos que crêem...” (Mc.16.17). Depois vem nossa compreensão parcial. A razão acompanha a fé de longe. Jamais a alcançará, embora sempre a esteja seguindo. A emoção, tão volúvel, fica por último na ordem de importância. 

Nossa vida com Deus não pode depender da emoção. Ela é boa e desejável, mas não pode nos controlar. Nossa vida espiritual está baseada na palavra de Deus, sobre a qual depositamos nossa fé. Deus falou, eu creio, e acabou. Não importa o que eu sinto. Os sentimentos virão depois. A alegria, por exemplo, é algo maravilhoso, mas eu não posso depender dela para servir a Deus. Eu dependo da fé, que depende da Palavra. O justo viverá pela fé (Heb.10.38).

A fé e a razão têm um ponto de contato na experiência concreta. Os sinais são produzidos pela fé e observados pela razão.
Não vamos entender tudo sobre Deus e sobre a bíblia. A razão não pode tomar o lugar da fé. Se invertermos as posições no nosso “trem”, ele poderá parar ou até retroceder.

A razão pode parecer um ótimo filtro para a fé. Alguns só querem crer naquilo que possam compreender claramente. Entretanto, o que seria um filtro torna-se um bloqueio. A verdadeira fonte e filtro da fé é a bíblia. Não vamos sair por aí crendo em qualquer coisa, em qualquer deus ou em qualquer espírito. A nossa fé é regulamentada pela bíblia.

O conhecimento intelectual alimenta a razão. O conhecimento espiritual através da bíblia e da experiência com Deus alimenta a fé. 



O racionalismo de alguns personagens bíblicos 

– O uso do verbo “arrazoar”

Em muitas situações, Jesus estava na contra-mão da razão humana e, principalmente, farisaica. As pessoas que o rodeavam sempre arrazoavam sobre suas palavras e ações, isto é, tentavam entendê-las apenas com a razão e, geralmente, chegavam a conclusões erradas. Vemos o uso do verbo arrazoar nos seguintes textos: Mt.16.7-8; 21.25; Mc.2.6-9; Mc.8.15-21; Mc.11.30-31; Lc.12.17; Lc.20.14.

Os fariseus, saduceus, escribas e doutores da lei eram os principais arrazoadores, tornando-se muito críticos e questionadores em relação a Jesus. Os discípulos, com melhores intenções, também viviam arrazoando, raciocinando, tirando conclusões lógicas a respeito do que Cristo falava. Contudo, o Mestre queria levá-los a um novo tipo de entendimento, baseado na fé. “Pela fé entendemos ...” (Heb.11.3). 


Os “teólogos liberais” na época do Novo Testamento

A existência de demônios, por exemplo, não é algo lógico para nós. Algumas pessoas afirmam que a possessão demoníaca nada mais é do que uma doença neurológica, ou seja, loucura.

Esse tipo de raciocínio combina com o de alguns contemporâneos de Cristo. Os saduceus não criam em anjos, espíritos e ressurreição (Mt.22.23; Mc.12.18; Lc.20.27; At.23.6-8). Eles eram inteligentes, “sábios”, doutores da lei, sacerdotes, elite religiosa. Talvez se considerassem “à frente do seu tempo”. Contudo, estavam errados .

A quem interessa que não se acredite em demônios? Interessa aos próprios demônios para que continuem agindo livremente.

O Velho Testamento que os saduceus liam já mencionava aquelas realidades espirituais, mas parece que tais referências bíblicas eram por eles descartadas ou “interpretadas” de modo “mais racional” (Gn.16.7; Dt.32.17; II Cr.11.15; Sl.106.37; IIRs.8.1; Dn.12.2). Talvez eles tenham lido estas passagens como “figuras de linguagem” quando, de fato, eram literais.

Nem Jesus conseguiu convencê-los. O tempo passou e lá em Atos 23.6-8 eles continuavam parados no tempo. Não avançaram na fé porque foram detidos pela razão. Não estavam convertidos, nem salvos, nem cheios do Espírito Santo.

Em Corinto, Paulo teve problemas com aqueles que negavam a ressurreição (ICo.15). Eles eram inteligentes e estavam muito bem alinhados com a razão e a lógica. Um morto voltar? A razão nos diz que é impossível. Logo, o cristianismo não cabe dentro da lógica humana e os que quiserem ficar restritos a ela rejeitarão a Cristo, pois a sua ressurreição é o fato mais importante a ser aceito e declarado para que alguém seja salvo (Rm.10.9).

Em nosso estudo teoLÓGICO, precisamos nos lembrar de, o "teo" é infinitamente maior do que o "lógico". Deus não cabe nos moldes da lógica. Isto não significa rejeição à teologia, mas apenas o reconhecimento de seus limites. Devemos usar a lógica como instrumento e não como freio para a nossa fé. Deus me deu olhos, mas eu não posso ser limitado pelo que vejo. Não quero perder a visão física, mas quero ir além através da fé. Da mesma forma, não quero perder a razão nem ficar preso por ela.

Não se deseja uma fé ignorante, sem entendimento (Rm.10.2), nem tampouco uma fé amarrada pelo intelecto. Podemos estudar sociologia, antropologia e filosofia, pois são matérias úteis, mas não podemos ser dominados por seus conceitos, muitos dos quais elaborados por ímpios e ateus. 


Seus axiomas podem conduzir o estudante desavisado ao ecumenismo ou ao ateísmo, na medida em que as manifestações religiosas, incluindo o cristianismo, são indevidamente reduzidas a denominadores comuns, como se tudo isso fosse apenas produção humana. O mau uso de tais disciplinas inclui um processo de racionalização, com tendência apóstata, que passa pela pretensa demitização de fatos bíblicos, bem como pela atenuação da noção bíblica do pecado e da condenação eterna.

Em nome da razão e do modernismo, muitos querem usar as Escrituras, removendo, porém, seus fundamentos sobrenaturais e divinos. Os argumentos dessas tendências são lógicos, mas sua essência é maligna. 

A renovação do entendimento

A razão está contaminada pelo pecado. Por isso precisamos da renovação da nossa mente, pela ação da palavra de Deus e do Espírito Santo, para que tenhamos a mente de Cristo (Rm.12.1-2; ICor.2.16).

Deus tem sua própria lógica. Andando com ele vamos aprendendo a pensar como ele pensa. Percebemos que Ezequiel estava nesse processo. Diante do vale de ossos secos, Deus lhe perguntou: “Poderão viver estes ossos?” Ele disse: “Senhor, tu o sabes” (Ez.37). Já foi um progresso. Se ele respondesse de acordo com a lógica humana, diria: “Senhor, de jeito nenhum”.

Na medida em que crescemos espiritualmente e conhecemos a palavra de Deus, desenvolvemos uma “mentalidade espiritual” ou “entendimento espiritual” (Col.1.9). 


Indo além da razão

Só a fé nos faz experimentar o poder de Deus.

"A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder; para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus " (ICo.2.4-5). A vida cristã tem diversos aspectos e poderíamos abordá-la de tantas formas, mas vamos visualizá-la dividindo-a em duas partes: conhecimento e poder. A lógica é muito útil enquanto estamos na área do conhecimento teórico. Daí em diante, só podemos avançar pela fé. O poder de Deus não se manifesta com base na lógica, embora não precise sempre contrariá-la.

Não podemos permitir que o nosso relacionamento com Deus fique travado por questões de lógica. Quando Deus disse que Sara teria um filho, ela riu. Afinal, não era lógico uma mulher idosa e estéril ter um filho. Pois Deus cumpriu sua promessa e o nome do menino foi Isaque, que significa "riso". 
Quando Jesus disse a Nicodemos que ele precisava nascer de novo, aquele doutor da lei viu toda a sua lógica ser lançada por terra. 

Para acompanharmos Jesus, precisamos andar pela fé, não dependendo de entender tudo o que ele diz e realiza. Assim, não haverá limites para nossas experiências espirituais. Experimentaremos milagres sem fim, pois cremos em um Deus ilimitado, Todo-poderoso. 

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