O misticismo – a
busca da verdade suprema através de rituais misteriosos e experiências subjetivas
– há séculos exerce fascínio sobre a humanidade. Sob a alegação de
proporcionar
uma compreensão mais profunda dos segredos complexos e enigmáticos do Universo,
o misticismo promete aos interessados a sua inclusão num grupo de elite, seduz
ao oferecer garantias de elucidar o sentido da vida e fascina com a promessa de
levar a pessoa a uma relação mais íntima com Deus.
Durante toda a
história humana, as culturas têm produzido suas versões do misticismo. O povo
judeu não é exceção. A forma mais influente e expressiva de misticismo judaico
se desenvolveu em Israel, na Babilônia e em certas regiões da Europa, entre os
séculos X e XVIII d.C. Em grande parte, originou-se de uma reação contra o judaísmo
estéril e filosófico daqueles dias. Ela ficou conhecida como Cabala (“Tradição”). O rabino Meyer Waxman
descreveu a Cabala como “uma síntese desordenada de todos os elementos do misticismo
que sempre achou expressão no judaísmo”.[1]
Na verdade existem
duas correntes de pensamento na Cabala: a prática e a especulativa. A Cabala prática enfoca o uso de fórmulas
místicas para realizar milagres ou obras sobrenaturais. Através da manipulação
dos nomes de Deus, de anjos e das próprias letras de palavras da Torah [a Lei ou Pentateuco], a Cabala prática alega que certas combinações
podem ser feitas para produzir qualquer feitiço, encantamento ou resultado que
se deseje, seja a cura de um doente, seja o sucesso nos negócios.
As dez sephiroth juntas são simbolicamente representadas
pela figura de um corpo
humano, ou pela árvore da
vida, ou por círculos
concêntricos, ou ainda,
pela luz em suas
diversas gradações.
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A Cabala especulativa, que incorpora e se
impõe sobre a Cabala prática, é mais
teórica. Ela lida com certas questões, tais como, a maneira pela qual um Deus
infinito pode criar e se relacionar com um mundo físico e finito. Segundo a Cabala,
a resposta para tal questão é: através da mediação.
A mediação é efetuada
por intermédio de anjos, bem como por intermédio das dez emanações de Deus, denominadas sephiroth.
Essas sephiroth, conforme escreveu o rabino
Waxman, “são manifestações tanto da essência [de Deus] quanto dos agentes de
Sua vontade” na terra. É por meio dessas manifestações que o mundo não apenas veio
a existir, como também tem sido preservado, organizado e governado”.[2] As dez sephiroth juntas são simbolicamente representadas
pela figura de um corpo humano, ou pela árvore da vida, ou por círculos concêntricos,
ou ainda, pela luz em suas diversas gradações.
Outra influente
doutrina da Cabala é a concepção de que tudo possui dois poderes ou energias
inerentes: a ativa e a passiva; simbolizadas por macho e fêmea. A Cabala apregoa
que a própria alma humana constitui-se tanto de uma parte masculina, quanto de
outra parte feminina. [Os adeptos crêem que] a alma preexistente, ao descer dos
mundos superiores, se subdivide nessas duas partes – a parte masculina entra
num homem e a parte feminina entra numa mulher. Se um homem vive uma vida justa,
ele se casará com aquela mulher que possui a outra parte de sua alma, ou seja,
a sua “alma gêmea”.
A principal obra
escrita da Cabala é o Zohar (“Esplendor”),
um enigmático comentário da Torah, cuja
ênfase recai na busca de um significado oculto ou místico que esteja além do
sentido normal e literal do texto bíblico.
O povo judeu já
estuda a Cabala há muito tempo, contudo, nas últimas quatro décadas o interesse
por ela cresceu significativamente, especialmente entre certos artistas de
Hollywood, como Madonna, por exemplo, que assumiu publicamente ser praticante
da Cabala. O estilo “pop” da Cabala dessas celebridades, defendido por uma organização
sem fins lucrativos sediada em Los Angeles denominada The Kabbalah Centre [Centro da Cabala], tem sido censurado pelos cabalistas
tradicionais pelo fato de franquear os ensinos secretos da Cabala aos que não
são judeus e por banalizar suas doutrinas. Os tradicionalistas também criticam
o Kabbalah Centre por sua visão comercial
e busca de lucros (por exemplo, por vender amuletos da sorte, tais como o popular
cordão vermelho que está na última moda, ou a pulseira dobrável que se ajusta
ao pulso para proteger do “mau-olhado”; e por fazer propaganda de uma nova bebida
energética cabalística).
O Kabbalah Centre em Los Angeles, na Califórnia
(EUA).
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A Cabala contraria
totalmente os ensinos da Bíblia. No que se refere à mediação, a Palavra de Deus
declara: “Porquanto há um só Deus e um só
Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Tm 2.5). No que
diz respeito aos segredos, o apóstolo Paulo lembra aos crentes em Cristo de Colossos
que nenhum segredo místico pode ter a pretensão de se comparar ao segredo revelado
por Deus, a saber, Jesus, o Messias, “em quem
todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3).
Moisés declarou: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor,
nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre,
para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 29.29). Há certas coisas
que Deus reservou para Si e não revelou. Entretanto, não temos necessidade de
nos preocupar com elas. Pelo contrário, nossa atenção e obediência devem estar
voltadas para aquilo que Ele revelou em Sua Palavra escrita. Deus planejou para
nós o ensino claro das Escrituras, não esse amontoado de bobagens sutis reservado
a poucos de uma “elite” (1 Tm 6.20; 2 Tm 1.13). (Bruce Scott - Israel My Glory - http://www.beth-shalom.com.br)
Notas:
- Meyer Waxman, A History of Jewish Literature: From the Close of the Bible to Our Own Days, 2ª ed., Nova York: Bloch Publishing Co., 1943, vol. 2, p. 383.
- Ibid., p. 362.
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