A DINVIDADE DE JESUS CRISTO - PARTE 3

Testemunho do Novo Testamento

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Até este ponto, têm sido considerados os textos que têm tremendas implicações. Agora nos voltamos para alguns textos mais específicos que se referem a Jesus como Deus e afirmam que ele é, de fato, o Criador. Se puder ser demonstrado que Jesus é o Criador e o mantenedor do mundo, de acordo com a Bíblia, então teremos demonstrado que a Bíblia ensina que Jesus é divino. Mais ainda, se há passagens específicas que se referem a Jesus em termos especiais identificando-o como Deus, então o ensinamento bíblico sobre Jesus ficará claro.

Jesus é o Criador e Mantenedor?

Alguns acreditam que a Bíblia ensina que Jesus é um ser criado. Alguma consideração já tem sido dada a isto. Outras passagens verificam que Jesus não foi criado. Por exemplo, Miquéias 5:2 fala do Messias como sendo “dos dias de eternidade,” ou “de eternidade a eternidade.” Isaías 9:6 fala do Messias como o “Pai eterno.” Isto não identifica Jesus com sendo a mesma pessoa que o Pai; identifica-o como o Criador, o originador. 

Ele é chamado “eterno.” Ainda que o Messias tenha nascido neste mundo no “tempo,” sua existência como um ser não teve um início. Esta foi pelo menos uma parte da declaração que Jesus fez quando disse aos judeus: “Antes que Abraão existisse, eu sou” (João 8:58). 

As Escrituras se referem a Jesus como o Criador. Colossenses 1:15-16 fala de Jesus como o “primogênito de toda a criação”, o que, como foi antes considerado, significa que Jesus é preeminente sobre a criação. Por quê? Porque “nele foram criadas todas as cousas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele”

É evidente que, se Jesus criou “todas as coisas,” é porque ele fica fora da classe dos seres criados. João 1:3 diz: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. Se esta afirmação é verdadeira, então Jesus é o Criador, não a criatura. Portanto, Jesus é o Deus Criador, de acordo com a Bíblia.

As Escrituras também ensinam que Jesus é o mantenedor de todas as coisas. Voltando ao contexto de Jesus como o Criador, a Bíblia afirma que “ele é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste” (Colossenses 1:17). A expressão “subsiste” (sunesteken) aqui indica “juntar ou manter junto algo em seu lugar próprio ou apropriado ou relação apropriada” (Louw e Nida 614). “Todas as coisas são dependentes do Filho para sua continuação em existência” (Reymond 248). Isto ensina que Jesus é o sustentador do que ele criou. Hebreus 1:3 afirma que Jesus “sustenta todas as coisas pela palavra de seu poder”. Aqui Jesus é descrito como aquele que faz todas as coisas continuarem. Assim, estas passagens ensinam que Jesus é aquele que preserva e sustenta todas as coisas. Elas implicam que Jesus é Deus, atribuindo a ele qualidades divinas.

Jesus é chamado “Deus”

Outras Escrituras são ainda mais explícitas em sua afirmação da divindade de Jesus. Ele é referido como “Deus” em diversos versículos específicos. Nesta parte, algumas dessas passagens serão brevemente citadas.

Œ João 1:1-18. João 1:1 diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Há três pontos afirmados neste versículo. Primeiro, o “Verbo” já estava em existência quando o tempo e a criação começaram; segundo, o Verbo estava sempre em comunicação com o Pai, e terceiro, o Verbo sempre participou da divindade. 

“O Verbo era Deus” é uma declaração que afirma a natureza divina do Logos. Theos, que aqui é anarthrous [substantivo usado sem o artigo], descreve a natureza do Logos, em vez de identificar sua pessoa. Jesus como o Logos é pessoalmente indistinto do Pai (vers. 1b), contudo é uno com o Pai em natureza (vers. 1c) (Harris 93). Neste versículo, então, o Novo Testamento está ensinando a respeito da divindade de Jesus. “Aqui, então, João identifica o Verbo como Deus (totus deus) e assim fazendo atribuir a ele a natureza ou essência da divindade” (Reymond 304). Isto não significa que deveria ser traduzido como “o Verbo era divino,” como alguns têm feito. Que “o Verbo” é uma referência a Jesus é facilmente visto no contexto. O versículo 14 diz: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. O contexto identifica mais adiante o “Verbo” como Jesus (vers. 15-17).

João 1:18 tem alguma dificuldade ligada a ele. A segunda parte do versículo, “o Deus unigênito, que está no seio do Pai,” tem algumas variantes nos manuscritos gregos. A alternativa mais notável é “o Filho unigênito.” Como foi explicado antes, “unigênito” se refere a unicidade (uno e único). A maioria dos críticos, contudo, “concorda que monogenes theos era o escrito original” (Harris 93). Reymond indica: “O respeitável crítico textual precisa admitir que a evidência aponta muito decisivamente em favor de um theos original” (306). 

Parece que haja uma pequena dúvida, em termos da evidência dos manuscritos, sobre o uso aqui da expressão que significa “uno e único Deus”. Se for o sentido original, seria então outra instância de ensinamento a respeito da divindade de Jesus. Contudo, uma vez que esta passagem tem em si alguma ambigüidade, seria difícil repousar um caso inteiro nela. Em ambos os casos, ela não contradiz o resto do testemunho do Novo Testamento da divindade de Jesus.

João 20:28. A Bíblia registra que, depois que Jesus se levantou dentre os mortos e apareceu aos seus discípulos pela primeira vez, Tomé não estava presente. Quando ouviu que Jesus fora visto, Tomé duvidou, e disse que teria que vê-lo por si mesmo para que cresse nisso. Jesus apareceu a eles novamente, e quando Tomé ficou convencido, respondeu a Jesus:
 
“Meu Senhor e meu Deus”

 Alguns têm tomado esta como uma exclamação de louvor a Deus (não a Jesus). Contudo, o texto afirma que Tomé disse isto “a ele.” Ele estava se dirigindo a Jesus como Senhor e Deus. Outros têm dito que esta foi uma exclamação num momento de excitação. Contudo, não há registro de uma repreensão de Jesus. Ele aceitou esta saudação e levou-a um passo adiante”:  
“Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (vers. 29). Isto se torna a base para a declaração de João do motivo porque ele escreveu o livro (vers. 30-31). Não pode haver dúvida de que Jesus dê evidência aqui, por sua aceitação expressa da apreciação dele por Tomé, que ele era em seu próprio entendimento seu Senhor para ser servido e seu Deus para ser adorado” (Reymond 213). “Em nenhum outro lugar no Novo Testamento Jesus é identificado mais claramente como Deus” (Erickson 461). Esta declaração de Tomé, como está, é por si mesma um tremendo testemunho do ensinamento do Novo Testamento da divindade de Jesus.

Romanos 9:5. Paulo escreveu a respeito dos israelitas: “... deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre.” A NVI traduz como “Cristo, que é Deus acima de todos, bendito para sempre”. Ainda que alguns tenham tentado fazer “Deus bendito para sempre” separado do contexto como uma doxologia dirigida ao Pai, “é muito mais natural considerar as palavras finais do versículo como uma descrição ou doxologia do Messias, Jesus Cristo” (Harris 95). Esta passagem, na sua leitura mais natural do texto grego, atribui plena divindade a Jesus Cristo. Ele permanece como o Senhor e dominador do universo, e merece pleno louvor. O argumento de Paulo neste contexto é que ainda que muitos companheiros israelitas tivessem rejeitado Jesus como Messias, Jesus é, realmente, supremo sobre o universo e, como Deus, merece ser servido e louvado. Nenhuma Cristologia mais alta pode ser encontrada.

Tito 2:13 e 2 Pedro 1:1. Estas duas passagens podem ser consideradas juntas por causa de sua frase idêntica: “Deus e Salvador” (theou kai soteros). Em ambas as passagens, “Jesus Cristo” é o objeto da frase. Alguns argumentam que “Salvador” se aplica a Jesus, mas “Deus” é uma referência ao Pai: “Deus (o Pai) e Salvador Jesus Cristo.” Contudo, isto não é apoiado pela construção grega. Esta frase é aplicada a uma pessoa: Jesus Cristo. Primeiro, esta é a leitura mais natural do texto. Segundo, os dois nomes ficam sob um artigo, que precede “Deus.” Isto indica que eles têm que ser construídos juntos, não separadamente. 

E mais, esta frase foi uma fórmula comum e sempre denotou uma divindade, não duas pessoas separadas. Quando ambos Paulo e Pedro usaram a frase, então, “seus leitores sempre a entenderiam como uma referência a uma só pessoa, Jesus Cristo. Simplesmente não ocorreria a eles que ‘Deus’ pudesse significar o Pai, com Jesus Cristo como o ‘Salvador’” (Harris 96-97). O que isto tudo significa é que Pedro e Paulo entenderam que Jesus era ambos, “Deus e Salvador”.

Hebreus 1:8. Em Hebreus 1 há um contraste entre o Filho e os seres angelicais. Isto mostra a superioridade do Filho sobre os anjos. Para defender este ponto, é feito o argumento que Jesus é o único Filho (vers. 5). Ele tem de ser adorado, até mesmo pelos anjos (vers. 6). 

Então, no versículo 8 o próprio Pai chama Jesus Deus: “do Filho ele diz, teu trono, ó Deus, é para todo o sempre”. Ainda que haja alguma controvérsia envolvendo se “ó Deus” é ou não para ser construído vocativamente (como na maioria das traduções) ou como um nominativo (“Deus é teu trono”) ou como predicado nominativo (“teu trono é Deus”), a avassaladora maioria dos gramáticos, comentaristas, autores de estudos gerais e traduções para o inglês dão força a este vocativo (Reymond 296). Na passagem da qual isto é tirado (Salmo 45:6), o vocativo é visível. Os versículos 10 e 11 são ligados aos versículos 8 e 9 pela conjunção kay, que indica que estes versículos caem sob a mesma introdução que os versículos 8-9. No versículo 10, Jesus é saudado como “Senhor”, o que também liga-o com Yahweh (Salmo 102). Isto fortalece a decisão para “ó Deus” ser entendida vocativamente no versículo 8. Isto significa que o Filho é saudado como “Deus” nestes versículos, num sentido ontológico.

A consideração das passagens precedentes mostra que o Novo Testamento atribui consistentemente divindade a Jesus Cristo. Pelo menos quatro escritores – João, Paulo, Pedro e o autor de Hebreus – usam o título “Deus” com referência a Jesus. 

O uso deste título foi primitivo, começando pouco tempo depois da ressurreição (Tomé) e continuando até o final do primeiro século. Os escritos, dirigidos a várias pessoas, foram espalhados através de várias regiões, incluindo a Grécia, a Judéia e Roma. Entre o título de Deus aplicado a Jesus, as declarações de Jesus e o resto das Escrituras que implicam sua divindade, o Novo Testamento está repleto de ensinamento sobre Jesus sendo Deus. Se a pessoa deseja ou não aceitar isto, é outro assunto. Se a pessoa aceita a Bíblia como verdade, então ela precisa também aceitar que Jesus é Deus.

Há duas passagens que ainda não foram consideradas, ambas as quais têm ponto de vista significante sobre o ensinamento do Novo Testamento a respeito da divindade de Jesus. São Colossenses 2:9 e Filienses 2:1-11. Elas merecem consideração especial.

Colossenses 2:9

“...porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Este único versículo, “além de todos os outros no Novo Testamento, afirma que cada atributo divino é encontrado em Jesus” (Harris 66). Ele não diz que “muita” ou “alguma” divindade mora nele, mas a “plenitude da divindade”. Todo elemento que existe como divindade está em Cristo, de acordo com este versículo.
 
Neste contexto, Paulo fala de “filosofia e vãs sutilezas, de acordo com a tradição dos homens” e “conforme os rudimentos do mundo” como sendo contrários a Cristo (vers. 8). A afirmação no versículo 9, “... porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”, foi feita para se contrapor a estas vãs filosofias e dar uma fundação sobre a qual se pode ser completo em Cristo. Uma das filosofias contra as quais os escritores do Novo Testamento falaram foi a doutrina gnóstica, que negava que Deus poderia realmente vir na carne. Os gnósticos acreditavam que a matéria era inerentemente má, e a partir disto raciocinavam que Deus não poderia morar num corpo carnal. João abordou este mesmo problema (1 João 4:2; 2 João 7). 

Os gnósticos ofereceram uma filosofia adicional. Paulo responde que Cristo é suficiente para fazer alguém completo porque nele está a plenitude da divindade, e ele está acima de tudo porque ele criou tudo. Assim, Colossenses 2:9 afirma que a plenitude da divindade realmente estava em Cristo, não importa o que os filósofos gnósticos, ou quem quer que seja, ensinasse. Nada mais era necessário. Esta, por sua vez, era a base sobre a qual os cristãos deveriam agir. “Por que seus leitores têm que ‘andar’ em Cristo para ‘ficar em guarda’ de modo que ninguém os faça cativos por meio da busca de conhecimento que procede da filosofia humana e da tradição?” (Reymond 249-250). A resposta está no versículo 9.
 
O termo “plenitude” (pleroma) significa “quantidade total, com ênfase na totalidade” (Louwn e Nida 597). “Mora” (katoikei) indica o assentamento em um lugar fixo. É “estar em casa”. Vincent aponta que o tempo presente de “mora” denota “uma característica eterna e essencial do ser de Cristo. A moradia da plenitude divina nele é característica dele como Cristo, desde todas as eras até todas as eras” (487). 

O que está permanentemente “em casa” em Cristo é a “totalidade” da divindade. A palavra “deidade” (theotes) é o mesmo que “divindade” em várias traduções. O termo significa “a natureza ou estado de ser Deus” (Louw e Nida 140). É isso que é Deus, o estado de divindade. Esta afirmação não está simplesmente dizendo que Jesus é Deus em sua pessoa, mas que ele é tudo o que é Deus. A natureza divina completa está em casa em Cristo.

Há dois significados compulsivos alternativos no termo “corporal” (somatikos) neste contexto. O primeiro é que ele significa “corporalmente,” uma referência ao corpo físico, humano, de Cristo. “A palavra refere-se ao corpo humano de Cristo” (Reinecker 573). Tomada neste sentido, aqui está uma afirmação do conceito que Jesus era plenamente Deus mesmo quando humano. A plenitude da divindade se tornou encarnada. 

Ao vir a este mundo, não houve nenhuma mudança em sua divina natureza. Tudo o que ele é como Deus continuou a morar em sua forma corpórea. O segundo significado possível de “corporal” é “incorporado” ou concentrado numa forma visível, tangível. Neste sentido, a idéia é que à plenitude da divindade foi dada expressão completa através de Jesus. Ele era “completamente” e “substancialmente” Deus e, portanto, plenamente incorporou a natureza divina. Isto ainda incluiria o tempo que Jesus passou na terra, como a palavra “mora” indica. Eu prefiro tomar o termo pelo que aparenta ser para referir à encarnação de Jesus. Em qualquer caso, contudo, este versículo mostra uma alta Cristologia. A passagem ensina que Jesus é divino.

Filipenses 2

Continua...

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