CARNAVAL – CARNE PARA BAAL - PARTE 4

 

O carnaval surgiu no Brasil em 1723, com a migração vinda das ilhas portuguesas da Madeira, Açores e Cabo Verde. Durante as festividades carnavalescas violentas, chamadas de Entrudo (palavra de origem latina que significa "entrada"), a diversão dos foliões era jogar água uns nos outros, loucas correrias, mela-mela de farinha, água com limão, sendo substituído depois pelas batalhas de confetes e serpentinas.


O carnaval em Portugal bebeu de muitos ritos pagãos ligados a celebrações da natureza, sobretudo de recomeço da vida purificada na Primavera, com a morte das culturas antigas e o germinar das novas. Por isso, enraizado no folclore português está o enterro de uma personagem, de um animal ou de uma coisa comum (o mais constante é o Enterro do Bacalhau), para depois se celebrar a vida, com danças, cortejos, muita cor, luz e música. Assim se vislumbram os motivos da morte que se projetam da festa da vida que é o Carnaval. Em muito locais, associado ao Enterro do Bacalhau, surge um Julgamento, que funciona como sátira à imposição eclesiástica de abstinência e jejum durante a Quaresma.

O Carnaval brasileiro é considerado o "maior do mundo", uma festa de muitas cores (como eram as Saturnálias - http://www.phantimage.net/gallery/osirius/pages/03BlowUp.htm), ritmo e sensualidade decantada em prosa e verso, principalmente no Rio de Janeiro, desde os tempos da Monarquia, embora a figura soberana do Rei Momo tenha surgido em pleno período republicano, quando foi aclamado pelos foliões cariocas com a mesma saudação das bacantes: - Evoé! Evoé!
 
Momo era o deus da galhofa e do delírio, da irreverência e do achincalhe, tendo sido expulso do Olimpo por seu comportamento zombeteiro.

Como o Carnaval português sempre foi muito diferente do de outros países europeus, acabou refletindo no jeito brasileiro de festejar até o século 19. Em Portugal, os festejos eram violentos, bárbaros. A festa do Momo ou entrudo, como era chamado, consistia em molhar as pessoas com água, jogar-lhes ovos, comida, farinha e lama.

Era semelhante ao que ocorria em Portugal - descritas pela Enciclopédia Portuguesa-Brasileira: "Pelas ruas generalizava-se uma verdadeira luta em que as armas eram os ovos de gema, ou suas cascas contendo farinha ou gesso, cartuchos de pós de goma, cabaças de cera com água de cheiro, tremoços, tubos de vidro ou de cartão para soprar com violência, milho e feijão que se despejavam aos alqueires sobre as cabeças dos transeuntes. Havia ainda as luvas com areia destinadas a cair de chofre sobre os chapéus altos ou de coco dos passantes pouco previdentes e até se jogava entrudo com laranjas, tangerinas e mesmo com pastéis de nata ou outros bolos. Em vários bairros atiravam-se à rua, ou de janela para janela, púcaros e tachos de barro e alguidares já em desuso, como depois se fez também no último dia do ano, no intuito de acabar com tudo de velho que haja em casa. Também se usaram nos velhos entrudos portugueses a vassourada e as bordoadas com colheres de pau etc."

Depois, apareceram as laranjinhas-de-cheiro e borrachas com água perfumada. Já no século XVIII, os foliões atiravam de tudo: ovos podres, pós de todos os tipos, tomates estragados, etc.
Isso só mudou quando D. João V impôs à festa um caráter religioso. Assim, em 1785, é realizado em Lisboa o primeiro baile de máscaras à moda francesa, para festejar o casamento do filho do rei, mais tarde D. João VI e Carlota Joaquina. No resto da Europa, o entrudo era ‘artístico’, com a presença de dançarinos e arlequins. 

O entrudo era uma brincadeira violenta, que consistia em atirar baldes d'água, balões cheios de vinagre ou groselha, e pós como cal e farinha, com a intenção de molhar ou sujar as pessoas que passavam pelos foliões. A brincadeira foi proibida inúmeras vezes, mas ela só desapareceu no início do século 20, com a popularização do confete.

O entrudo incentivou a criação de uma festa em local fechado, para um público selecionado, que queria se divertir civilizadamente. Assim, surgiram em 1840 os bailes de carnaval, inspirados nos grandes bailes de máscaras realizados na Europa. O sucesso incentivou outras casas de espetáculos a promover seus próprios bailes. Hoje, essas festas não são tão elitistas, e as máscaras praticamente deixaram de ser usadas, pois os foliões não têm mais medo de ser reconhecidos na festa.

O Brasil já comemorou o Carnaval de diversas formas: entrudo, até meados século 19, baile de máscaras (e depois os concursos de fantasia) e corso (desfile de carruagens e automóveis em que saiam as famílias ricas). 

No início, o entrudo, como em Portugal, era a festa dos povoados brasileiros, enquanto nos bairros ruas havia a festa de Reis em janeiro e as de Santo Antônio, São João e São Pedro, em junho. O entrudo, no Brasil, se dava entre famílias amigas, da mesma classe social, que produziam limões e laranjas de cera recheadas de água perfumada para os ‘ataques’ carnavalescos. 

Só por volta de 1850 ocorreu a passagem do entrudo para o Carnaval. A festa foi batizada de ‘Carnaval Veneziano’, ‘Grande Carnaval’ e, finalmente, ‘Carnaval’. O primeiro baile de máscaras brasileiro foi realizado e 1840, mas o Carnaval só foi para a rua em 1850. Eram os bailes acompanhados por préstitos (desfiles de carros alegóricos animador por atrizes e mulheres ‘mundanas’) e cursos (destinados a senhoras de ‘boa índole’).

Aos poucos, o entrudo português foi sendo adaptado, ao assimilar as tradições africanas. A tradição dos desfiles tem origem nas reuniões de escravos, que organizavam cortejos com bandeiras e improvisavam cantigas ao ritmo de marcha. Aos escravos devem-se os ritmos e instrumentos de percussão usados no Carnaval brasileiro. No século XIX, os operários urbanos começaram a juntar-se em grêmios (associações profissionais), que continuaram e desenvolveram a tradição dos desfiles. Ao mesmo tempo em que se desenvolviam as futuras escolas de samba, institucionalizadas no Rio em 1935, as classes altas importavam da Europa os sofisticados Bailes de Máscaras e as Alegorias. Em 1870 foi criado o Maxixe, um tipo de música específico para o Carnaval.

No Brasil o carnaval é festejado tradicionalmente no sábado, domingo, segunda e terça-feira anteriores aos quarentas dias que vão da quarta-feira de cinzas ao domingo de Páscoa. Na Bahia é comemorado também na quinta-feira da terceira semana da Quaresma, mudando de nome para Micareta (carnavais fora de época). Esta festa deu origem a várias outras em estados do Nordeste, todas com características baiana, com a presença indispensável dos Trios Elétricos e são realizadas no decorrer do ano; em Fortaleza realiza-se o Fortal; em Natal, o Carnatal; em João Pessoa, a Micaroa; em Campina Grande, a Micarande; em Maceió, o Carnaval Fest; em Caruaru, o Micarú; em Recife, o Recifolia, etc.

Assim, no mês de dezembro, o “mês das festas”, como também é conhecido, há uma série de festas folclóricas, as Lapinhas, Reisados, Guerreiros, Autos, Pastoris, Bumba-meu-boi, Marujada, Carimbo, Afoxé, Boi de Carnaval, Frevo, Caboclinho, Maracatu,  Urso e Rei Momo.
O Corso - Percorria o seguinte intinerário: Praça da Faculdade de Direito, saindo pela Rua do Hospício, seguindo pela Rua da Imperatriz, Rua Nova, Rua do Imperador, Princesa Isabel e parando, finalmente na Praça da Faculdade. 
O corso era composto de carros puxados a cavalo como: cabriolé, aranha, charrete e outros. A brincadeira no corso era confete e serpentina, água com limão e bisnagas com água perfumada. Também havia caminhões e carroças puxadas a cavalo e bem ornamentadas, rapazes e moças tocavam e cantavam marchas da época dando alegre musicalidade ao evento. Fanfarras contratadas pelas famílias, desfilavam em lindos carros alegóricos. 
Continua...

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